Pequeno Relato pessoal e intransferíve sobre o encontro com o Governador Anastasia

por Paulo Rocha

Dia 9 de Julho de 2013, caminho para mais um encontro com o Governador Anastasia. No trajeto fico pensando que de fato é um mundo muito estranho esse onde um anarquista vai "negociar" com governantes (sem crenças de que é possível negociar com um poder assimétrico e mais do que isso, que é possível mudar o sistema por dentro). O que para mim ainda é motivo de um certo problema e inevitável contradição, acaba virando motivo de piada ("traidô do movimento anarquista!", "anarco-peleguista!", etc.) e um possível ponto a ser pensado na limitação/potência da Assembleia Popular Horizontal, além das formas de atuação que escolhi. Acredito que se por um lado a Assembleia deve caminhar para uma organização das lutas por outra não deve deixar de lado seu pendor e sua busca de ação direta e radicalidade, e é nisso que me inspiro, a possibilidade de que essa mediação não exista. O poder é do povo para o povo… o fato é que enquanto vou indo para o encontro, tudo isso me invade e tento justificar esses pontos com um "Sou um simples delegado da Assembleia Popular Horizontal, estou aqui apenas para encaminhar as diversas propostas que vieram dessa mesma assembleia que eu ajudei a formar, então preciso arcar com isso!" (momento auto-ajuda, confesso).

Chegando no Palácio da Liberdade fica claro um esquema de segurança muito maior do que o da primeira vez, quando eramos simples integrantes do COPAC e de uma Assembleia Popular ainda incipiente na cidade. O Palácio da Liberdade, sempre me impressiona como um espaço tipicamente fetichizado, fino, limpo e não utilizado. Quadra, piscina, jardim que a população de BH nunca poderá usar… fico pensando em Anastasia e Aécio tomando seus "bons drink" naquela piscina (pensamento mais que sensual) mas sou interrompido com seguranças nos encaminhando para o Palácio.

O encontro começa cordial e só posso dizer que de fato Anastasia é muito educado e hábil, escutou e não se alterou nenhuma vez (diferentemente como a gente sabe do Prefeito Márcio Lacerda). Houve sim, momentos tensos principalmente quando o assunto era a Lei da Copa e a morte do companheiro Douglas Henrique. Fiz questão de reforçar a culpa do Estado e do governador já que na primeira reunião, em que estive presente, falamos claramente: era uma questão de tempo até que alguém morresse caso o Estado não tomasse uma atitude referente ao viaduto José de Alencar!

(Enquanto escrevo esse texto, além de Douglas Henrique fico sabendo que o companheiro Luiz Felipe Aniceto também morreu ao cair do viaduto)

Conseguimos tirar do governo a promessa de uma reunião entre o governador e os professores (que é necessário frisar, fizeram uma greve histórica de 130 dias e o Estado não os recebeu), a promessa de uma solução para o problema dos feirantes e ambulantes do Mineirão e Mineirinho, a paridade no conselho de Transporte e o encaminhamento do governador para o prefeito Márcio Lacerda da mudança do nome do viaduto José de Alencar para Douglas Henrique.

A reunião não deve ser vista como uma vitória, pois não é, é MUITO pouco! Não sejamos otimistas a esse ponto, que fique claro, NÃO ESTAMOS VENCENDO é só mais um passo… particularmente me surpreendeu a reação do Anastasia, o que demonstra que de fato os políticos estão sentindo que há uma ameaça desses processos e revoltas ainda porvir, então é necessário radicalizar ainda mais!
Descemos para a famigerada coletiva de imprensa, primeiramente o governador falou, como manda a "boa educação" do poder instituído, o que não foi de todo ruim poque deixou um ótimo espaço para que criticássemos o Estado sem que ele pudesse responder. Aqui ressalto o nível boçal da maioria dos repórteres da grande mídia de BH.

Como sempre fazemos no final da coletiva começamos a cantar nosso "poder para o povo!" (espero que quem tenha visto em algum vídeo perdoe meu canto de adolescente mudando de voz, rouco e doente…). Quando terminamos percebo ao meu lado o governador visivelmente incomodado (como de praxe sempre ocorre algo de bizarro entre nós dois ao final das reuniões, seria o destino?) e ele pergunta sarcasticamente se nós gostávamos de cantar. Eu respondo que adoro, principalmente no que deveria ser um espaço da população cantar também, ele permanece com um sorriso de leve deboche, enquanto esperava para cumprimentar os delegados da Assembleia Popular. Eu continuando minha revolta juvenil e anarquista passei direto e não o cumprimentei (meu pequeno prazer adolescente contra o poder, confesso) passando direto.

Ao sair vemos o caminhão do Choque atrás do Palácio da Liberdade, eu logo pensei que de fato o governador deve achar que somos terroristas ou criminosos perigosos… espero que ele esteja certo!

Tomaremos o que puder ser tomado: tudo!

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